domingo, 10 de fevereiro de 2008

O entrudo em Trâs-os-Montes

Apesar de nalgumas aldeias os costumes irem desaparecendo de ano para ano.
Apesar das influências brasileiras já se fazerem sentir nalgumas comemorações do Carnaval transmontano, ainda há localidades que, nesta quadra, insistem em manter as suas tradições. É o caso de Agarez, em Vila Real, e do Pinhão, em Alijó, onde se faz anualmente o “enterro do Entrudo”.

No entanto, noutras aldeias do distrito, os costumes foram-se perdendo e hoje não são mais que memórias dos mais velhos.
No distrito de Vila Real, não há a tradição dos corsos alegóricos de Carnaval, como acontece noutras zonas do país.

Algumas pequenas localidades da região resistem às influências vindas do Brasil e insistem em manter vivas as suas tradições, como é o caso dos caretos e do “enterro do entrudo”. Assim acontece em Agarez, no concelho de Vila Real, e no Pinhão, em Alijó. Durante a tarde, realiza-se um cortejo, no qual participam quase todos os residentes da localidade. Animados pela música da viola e da concertina, percorrem, a dançar e a cantar, as principais ruas da povoação. Mas é só depois do jantar que a população se reúne novamente, desta vez para o julgamento e o cortejo “fúnebre” do Entrudo. Perante a assistência, é constituído um tribunal, através do qual são apresentadas as sentenças do “defunto”. O padroeiro, porta-voz do Entrudo, apresenta a suas ideias, através das quais tece severas críticas aos poderosos (igreja e políticos) e aos humildes (o povo). Julgado e condenado, o Entrudo é pendurado pelo pescoço, depois de “morto”. Segue-se então o “funeral”. Como num Auto de Fé, um “arcebispo”, um “monge”, um “vigário”, o “padroeiro” e dois “cónegos” seguem atrás do caixão do “defunto” (uma urna com um boneco dentro), que será seguido pelos populares, “sensibilizados” pela “morte” do Entrudo. Este cena representa o fim do Carnaval e o início de “um período de contenção e de preparação para a morte de Cristo”. O escritor e historiador Pires Cabral considera que Agarez e Pinhão representam as únicas tradições carnavalescas que ainda persistem no distrito. Segundo ele, “a realização destes festejos serve de pretexto para as pessoas dizerem aquilo que lhes vai na alma, sem serem condenadas por qualquer tipo de preconceito social”. “É um momento de transgressão à ordem constituída e de pura diversão das populações”, acrescenta.

Tradições perdidas

Se nuns locais a tradição se mantém viva, noutros tem sido difícil preservá-la.
Na aldeia de Águas Santas, em Vila Real, as tradições carnavalescas estão a desaparecer de ano para ano. O padre João Parente recorda que, na sua infância, as mulheres da terra se vestiam de homens. E os homens de mulher. Enfileirados atrás de um burro, os “caretos” percorriam as ruas da aldeia, atirando água e farinha a todos os que aparecessem pela frente. No entanto, esta festa era realizada no domingo que antecedia ao verdadeiro dia de Carnaval, porque terça-feira era dia de trabalho. João Parente recorda ainda que, para além de nesse dia a população “trocar de sexo”, o “rancho era melhorado”, comendo-se vários petiscos à base de carne de porco.
Outra tradição carnavalesca que se perdeu foram os chamados “Bailes da Carolina”. Estes bailes de máscaras, que se realizaram entre o início do século XX e meados da década de 50, no Teatro Circo de Vila Real, reuniam pessoas de todos os estratos sociais, vindas de vários concelhos vizinhos. Os lucros revertiam a favor dos bombeiros voluntários da cidade.Tanto os “Bailes da Carolina” como os caretos de Águas Santas se perderam, devido à emigração e ao envelhecimento da população, e hoje não passam de memórias daqueles que as viveram. O “enterro do Entrudo” em Agarez e no Pinhão vai-se realizando por “carolice”. Mas os habitantes destas localidades garantem que a tradição só deixará de existir se algum dia se quebrar o elo que une as várias gerações, pois os costumes são transmitidos de pais para filhos.

Felipeiros de Tourém

No concelho de Montalegre, é o Carnaval de Tourém que assume características mais tradicionais. Além dos “felipeiros”, rapazes e raparigas vestidos com roupas velhas ou com crossas e com um pano de renda na cara para não serem reconhecidos, o cortejo que percorre as ruas da aldeia é composto por juntas de vacas junguidas e cavalos adornados com coloridas mantas de lã e chocalhos presos ao pescoço.


Fonte: Diário de Trâs-os-Montes.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008